quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Internet: Mídia Alternativa?

O que foi apenas um aperitivo durante anos acabou de se tornar o prato principal. A internet está ganhando terreno sobre a TV, como fonte de informação e hábito de entretenimento, para grande parte dos jovens e também dos adultos. Este é um fato global e generalizado entre todas as faixas etárias, mas em especial para público adolescente, onde a parcela que prefere utilizar internet em relação à  outros meios chega a 60%. Mais surpreendente ainda é o fato de que muitos destes jovens sequer possuem acesso à rede em suas próprias casas, mas contornam o problema navegando a partir de outros lugares, como cyber cafés e escolas.
Naturalmente, as principais emissoras de TV já migraram partes consideráveis de seu conteúdo para internet com o objetivo de acompanhar esta tendência. As grades de programação flexíveis são um grande atrativo para quem não tem tempo de esperar pelo programa predileto em algum horário pré-determinado. Além disso, existe a questão da interatividade. É impossível ignorar a demanda por participação no conteúdo que é oferecido, e a extensão desta participação pode variar de pesquisas de opinião a idéias futuras para novas programações. Muito é possível em um meio tão diversificado e interativo, e na ausência de uma TV digital plenamente desenvolvida, a internet parece assumir o seu papel de forma antecipada.

Essa mudança de hábitos levanta questões importantes com relação ao que se pode fazer para tornar a navegação mais interessante num mundo que até agora não soube explorar em profundidade todas as suas possibilidades. Uma das falhas mais evidentes é que nos últimos anos o conteúdo visual das páginas de internet parece ter se aperfeiçoado tremendamente, enquanto o conteúdo sonoro parece ter estagnado nos primeiros estágios de sua evolução.

Do ponto de vista técnico, a sonorização na internet ainda se resume quase integralmente a pequenas colagens musicais e efeitos sonoros isolados que muitas vezes não tem conexão alguma com a navegação. As soluções improvisadas predominam, mesmo quando poderiam ser profissionais. O som verdadeiramente interativo é uma peça tão rara, e ao mesmo tempo é um diferencial tão certeiro, que chega a ser surpreendente o pequeno número de vezes nas quais o foco criativo recai sobre essa temática. Tudo isto incomoda os usuários e afasta o que poderia ser uma experiência muito mais completa em termos sensoriais.
Pode parecer estranho à primeira vista, mas essa questão não é inteiramente nova. Nos primórdios do cinema, o som também demorou a evoluir até se finalmente constituir sua própria linguagem. Enquanto isto, velhas soluções continuaram a ser utilizadas para suprir o vácuo criado dentro da nova realidade. Nas falta de opção melhor, pianistas ficavam a cargo de criar trilhas sonoras que acompanhassem a ação na tela, com um resultado nem sempre satisfatório. Hoje as pessoas disparam um mp3 player enquanto navegam, ou simplesmente desligam as caixas de som. Mas não será assim para sempre.

Para os profissionais da área, incomoda saber que o volume de trabalho repassado dentro deste segmento específico seja tão baixo em comparação ao o que poderia ser. É até mesmo preocupante que a internet tenha aumentado tanto a sua participação com relação a outros meios de comunicação, mas que este aumento não tenha se refletido na demanda por produtos específicos relacionados ao som, exceto aqueles que são adaptados a partir de outros meios mais convencionais e bem menos interativos.

Sobre o futuro do som na internet cabem muito mais perguntas do que respostas, mas é um fato que as ferramentas para torná-lo tão atrativo e eficiente quanto todo o resto já estão disponíveis, assim como os profissionais. Se por um lado a internet deixou de ser uma mídia alternativa para o público em geral, esta realidade ainda não se transpôs para o domínio auditivo.
 Longe de ser um problema sem solução, o som na internet pode ser a solução para um grande problema. Basta apenas que o exercício dessa linguagem faça parte do dia-a-dia das produtoras e agências, e a julgar pelo perfil do público que vem por aí, está mais do que na hora de atender esta demanda.



Guga Bernardo é diretor musical da Trilha Original Criações Musicais, pianista, compositor, arranjador e atua compondo trilhas para publicidade, cinema, teatro e web.

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